quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Lição

por todas as coisas aprendidas
inutilmente

por todas as coisas
guardadas no improviso da dor

agora recolho meu próprio vulto
no que permite a solidão
neste duro chão humano

mas me falta o suor
do teu corpo
e a direção dos ventos

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

dú-vida

sou um
entre os três elementos
que o discurso encerra
: sou o assunto - a coisa
que registra e doma
noutra forma
a pessoa que fala

mas quando digo
- o fim do discurso! -
falo do terceiro elemento
: o ouvinte que nada ouve?

ou me refiro àquilo
que sou no discurso
- o meio - pensamento - falatório ?

não sabendo o ser do discurso
quando este se esvazia e morre
nos frisos lisos dos teus dentes

e não querendo ver o curso
das secretas frutas das cidades
posso - falso inventor de madrugadas -
desvendar a solidão áspera dos fonemas ?

adeus amor

a) se digo adeus
é pelo cansaço
por correr demais
a procura deste chão

se des-digo
é pela covardia
a falta do meu rio
e tudo que me roubou
as águas do não

se digo adeus
é pelo constume
de sempre andar
como se à frente
houvesse outro chão
a desvendar


b) des-vendar
o que se oculta
nos confins da carne
( ou no último
quadrante da alma)

esse halo que me guarda
como um beijo premonitório
escreve o meu destino

des-atar
o que primeiro se inscreveu
na junção de todos os planetas
e agora se revela
na leitura inóspida
do meu mapa astral


c) noite e dia
a renitente busca
o mudo esforço
pois astro algum
me pesa ao dorso

dia e noite
mais persigo
o revide do tempo
que a posição dos signos
na constelação do nada

se fico
é pelo terrível
: o calafrio que dá:

se digo adeus

domingo, 23 de dezembro de 2007

Mensagem Natalina




2008 tinindo de esperança e paz


dia-logos

não penso a palavra
mudando as pessoas

ela é tão banal
: um bom dia que escapa
no meio da calçada

: um fragmento de amor
solto na tua boca

frágil muito frágil

não penso a palavra
desfazendo a mala
impedindo a partida

é verdade
que ela inventa coisas
faz você pensar

mas é só

passado

nunca pensei
meus poemas atravessando
o tempo
fazendo cócegas
nos teus pés macios
sendo um muro invisível
entre tu e o novo passageiro

nunca pensei
meus poemas povoando
a estante do teu quarto
se aninhando
nas velhas teias de aranha

querendo ser presente
quanto tudo já passou

autópsia

um exercício inútil
: decifrar no esqueleto
a textura da pele
o estúpido segredo

mas são limpos os mortos
nas pegadas das cidades

são limpos os ossos
brancos troços
de alguma história

(o retrato sobre a mesa
é um espaço em trânsito)