quinta-feira, 15 de novembro de 2007

testamento

(declaração)

faço saber que andei
espantei todos os fantasmas
e hoje enfrento a cidade
com as mãos no bolso
e um assobio na boca

(intervalo)

com essa calma soturna
é certo que não me engano
com essa gramática suja
com esses carinhos tão súbitos

(declaração)

faço saber que mudei
depus a arma na gaveta
guardei as sombras no porão

agora planejo fazer canção
ser sentinela dos jardins
inventar outros amigos

(intervalo)

e nunca mais adeus
dos que passaram por acaso
na linha oblíqua do tiro

3 comentários:

Anônimo disse...

Poeta Otávio,

bom, muito bom te ler nessas paragens digitais, onde o tempo distende suas declarações, seus intervalos.
e que a arte de inventar novos amigos seja constante.
não vejo adeus, mas outro chão, outras fendas.
um forte abraço,
do seu amigo,
pablo

Grace Luzzi disse...

o silêncio atravessou a noite como um tiro mudo... roubando o sossêgo dos insônes animais em seus quartos de dormir. o silêncio norturno é a morada da agonia e da dor.

Grace Luzzi

Nicoly disse...

Esses tempos achei uma carta do meu falecido pai que escreveu à minha mãe em 1986 que dizia:

"Faço saber que andei
espantei todos os fantasmas
Faço saber que mudei
depus a arma na gaveta
para poder te amar melhor

Não sei muita coisa de amor
mas acho que ele é um cavalo
posto a pique galopando
as vezes com suas crinas
coroadas de guizo
só sei que amo você"